A solidariedade é um dos novos nomes do amor. Não apenas solidariedade como dever, mas como sentido de responsabilidade e de entrega, que todos nós devíamos fomentar. Na civilização da velocidade e do sucesso, necessariamente, há sempre quem fica para trás, porque não consegue acompanhar a corrida. A pessoa idosa pertence, muitas vezes, a esse número incontável de pessoas que vão ficando para trás, numa sociedade que olha quase só para a frente. Há anos atrás, ser idoso equivalia a ser sábio e, normalmente, os mais novos respeitavam as opiniões e o estatuto dos mais idosos. O mundo novo tende a inutilizar a pessoa idosa, e não sabe o que perde com isso. Tornamo-nos numa sociedade infantilizada.
Há também a necessidade de cuidar da pessoa idosa na sua doença e dependência, como gesto de pura responsabilidade. Não se trata de piedade ou compaixão, mas de responsabilidade, isto é, de resposta. Resposta àquilo que a pessoa idosa foi e que merece ser.
Dentro desta resposta existe o cuidado espiritual, uma espécie de corolário de todos os outros cuidados. A espiritualidade não é apenas a fé: é tudo o que dá sentido à vida e a torna, por assim dizer, redonda, isto é, aperfeiçoada, com sentido. Não é difícil encontrar pessoas idosas que se interrogam, olhando para trás, se valeu a pena a vida que levaram, os sacrifícios que fizeram. Cuidar da pessoa idosa é também ajudá-la a perceber que valeu a pena, e que ainda vale a pena viver, porque há coisas que não têm perco nem podem ser avaliadas, e são essas que dão sentido e sabor à existência. É importante que a fé seja alimentada. Quase todas as pessoas idosas do nosso meio são católicas e essa fé é o elo de ligação que lhes dá sentido a toda a vida. A celebração da Eucaristia, a comunhão e o encontro espiritual são muito importantes.
A solidão é uma doença, uma doença grave e muito dolorosa. «O que dói na dor não é a dor em si, mas a falta de um ombro onde chorar a dor», dizia um sociólogo famoso. A dor é a solidão da dor. Essa doença tem cura e todos nós somos médicos dessa doença. Nós somos a cura e o remédio.
Reconheço que, como capelão, gostaria de ter mais mãos que a mais pudessem chegar. O que é difícil não é impossível e deve ser uma exigência a aperfeiçoar sempre. Com a consciência de que, nos caminhos de Deus, nada é nunca suficiente, reconheço que, em espiritualidade, as pessoas precisam de companheiros de viagem. O mais belo e o mais difícil de todos os caminhos: ser o rosto de bondade de Deus para quem d’Ele precisa.
Que Deus nos ajude
Pe Júlio Rocha
Capelão do Lar de idosos da Sta. Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo.